Os dois azarados

São João do Rio do Peixe fica bem próxima à fronteira do Ceará com a Paraíba. Dista cerca de 30 km de Baixio/CE (via estrada de terra) e 50 km de Ipaumirim/CE (por rodovias). Por isso, é muito comum o fluxo de paraibanos para o Ceará e de cearenses para a Paraíba, e muitos moradores de um Estado têm  parentes no lado “de lá” da fronteira.

Certa vez, uma dupla de cearenses, moradores de uma cidade próxima, resolveu passar o fim de semana no sítio de um parente deles, que residia na zona rural de São João. Havia uma festa na cidade, e eles – ambos jovens, na casa dos 22/23 anos – queriam beber, se divertir e quem sabe arranjar umas garotas. Mas seria melhor que não tivessem saído do Ceará…

Ao chegarem na festa, a dupla começou a tomar umas cervejas, e depois de perderem a inibição resolveram se engraçar com umas garotas que lá se encontravam. Não sei ao certo se eles não perceberam o risco que corriam, ou se resolveram pagar pra ver, mas o fato é que as meninas estavam acompanhadas, não só dos respectivos namorados, como de uma turma de mais ou menos dez amigos da cidade. Após algumas cantadas malsucedidas, os cearenses levaram uma “pisa” dos namorados e amigos das moças.

Não satisfeitos, tiveram uma ideia de jerico: voltaram à casa do parente que lhes hospedava (que, lembrando, ficava na zona rural), no intuito de buscar uma espingarda caseira que ele guardava em casa e revidar a surra que haviam levado. Fizeram o percurso de moto. Quando estavam voltando para a cidade, para retornar à festa, o garupa avisou ao condutor da moto que a espingarda tinha uma única munição, e ambos tiveram medo de ser insuficiente para uma dezena de homens que, minutos antes, já haviam lhes espancado. Deram meia volta, já querendo dar a noite por acabada.

O que eles não esperavam era que, no meio da estrada, de madrugada, iriam encontrar uma viatura da Polícia Militar. Ao verem aquela cena, uma moto conduzindo um homem que carregava uma espingarda, os militares abordaram a dupla, e prenderam ambos por porte ilegal de arma, tendo o condutor da moto respondido, também por dirigir embriagado – o bafo de bebida o denunciou.

Resumo da ópera: os cearenses saíram de casa pretendendo se arranjar na festa da cidade vizinha. Levaram um toco, apanharam e foram presos. Um dia pra esquecer. Meses depois, na audiência, vieram do Ceará para a Paraíba e foram interrogados com uma visível cara de quem se arrependeu de ter saído da cama no fatídico dia. No fim, foram condenados a penas alternativas (multa e prestação de serviços comunitários, se não me engano), pois os crimes não eram tão graves e eles não tinham nenhum antecedente criminal. Mas até hoje tenho certeza que o maior castigo que eles levaram não foi aplicado pela Justiça…

 

Deixe um comentário